Sofia e José
A minha irmã e o meu cunhado.
Conheceram-se desde sempre.
Tinha a minha irmã 14 anos. E ele 16 anos. Quando começaram a namorar.
Ele é filho de um dos melhores amigos do meu pai.
Nunca mais se largaram.
Um namoro muito discreto.
Estávamos no final dos anos 80.
A tendência progressista do pós 25 de Abril ainda não tinha chegado à minha família.
Melhor dizendo. À minha mãe.
Esconderam o namoro durante 6 anos.
Numa época sem telemóveis. Facebook. E essas coisas todas....
Durante um tempo viam-se na escola. De forma discreta.
É preciso ter cuidado! Nestas ocasiões há sempre uma invejosa que se faz amiga e vai diretamente apregoar na praça municipal que a Sofia namora com o Zé. Todo o cuidado é pouco!
A minha irmã contava com a cumplicidade da melhor amiga a Ana. E o Zé, com a cumplicidade do melhor amigo, o Nicolau.
Iam ao cinema. A minha irmã com a Ana. O Zé com o Nicolau.
E lá dentro. Trocavam de lugares.
Tanta troca de lugares.
A Ana casou com o Nicolau. E são felizes. Ser boa pessoa compensa quase sempre.
Quando o Zé tinha 22 anos. Faltava um ano para terminar a faculdade. Foi lá a casa.
A minha irmã já tinha preparado o meu pai. E sobretudo a minha mãe.
- Ah! O Zé, sabes, o filho mais novo do João e da Lina, vem cá.
E não disse mais nada. Estava vermelha que nem um tomate maduro.
O meu pai era menino para prolongar o sofrimento da minha irmã, mas não o fez. E percebeu do que se tratava.
O Zé lá apareceu. Teve a bênção dos meus pais.
Mas a partir daí. O cinema acabou praticamente. Ficavam lá em casa. Sob o olhar atento da minha mãe.
E não. Nas outras casas não era bem assim. Mas nas outras casas não vivia dona Mariana, senhora minha mãe.
Quando a minha irmã tinha 21 anos. O José voltou lá a casa. Pediu-a em casamento. Casaram um ano depois.
Continuam casados. Têm 3 filhos.
Rita e Tiago
A minha cunhada e o meu irmão.
Conheceram-se desde sempre.
A Rita teve sempre um fraquinho pelo meu irmão. O meu irmão não lhe ligou nenhuma durante muito tempo.
A Rita desistiu de esperar por ele e arranjou um namorado. Aos 15 anos.
Nesta altura o meu irmão começou a gostar da Rita. É mesmo de homem! Parvo!!
A Rita namorou com o outro até aos 17. O meu irmão teve uma outra namorada.
A Rita deixou o namorado. O meu irmão deixou a namorada no dia em que soube que a Rita estava sozinha.
Começaram a namorar. Passados 6 meses.
Toda a gente em Campo de Ourique sabia. Porque não esconderam de ninguém.
A minha mãe andava em pranto. Queria a oficialização da coisa.
A Rita era filha de um grande amigo do meu pai.
O meu irmão disse-lhe que não queria saber de formalidades. Namorava e depois logo se via.
A minha mãe andava horrorizada. Estamos a falar de anos 90.
O meu irmão esteve um tempo na Dinamarca a terminar o curso e a estagiar. A Rita esteve lá com ele durante uma parte desse tempo.
A minha mãe à beira de um AVC.
- Mãe é normal. Convém conhecer bem a pessoa, ela a mim e só depois casarmos. Para não terminar em divórcio.
Convenceu a minha mãe. Esta declaração. Que ficou mais calma durante um tempo.
Quando o meu irmão regressou. E organizou a vida profissional. Casaram.
Continuam casados. Têm 3 filhos.
Pedro e Joana
Quinta-feira
Uma pessoa. Eu. Vai a uma consulta com a filha.
Está à espera de um ser carrancudo. E mal humorado.
Mal o vê acha que se enganou no consultório.
Ele diz que não. Não me enganei. Estou no sítio certo.
A consulta dura quase 4 horas. E com algumas perguntas da parte dele um bocado para o pessoal.
Sexta-feira.
Uma pessoa. Eu. Recebe uma chamada. Dele. Do número pessoal.
A dizer que está tudo bem com a filha.
Passados aqueles primeiros segundos de pânico. Sem saber se está tudo bem ou não.
Apetece prolongar o telefonema até ao infinito. Mas a pessoa tem dignidade....e não o faz.
Segunda-feira.
Uma pessoa. Eu. Está em Angola. E recebe um telefonema. Dele.
Com um convite para jantar.
A pessoa. Eu. Diz que não pode. Está em Angola.
A pessoa. Ele. Acha que é uma desculpa.
A pessoa. Eu. Entra em pânico. E desata a dizer:
- Não é desculpa. Não é desculpa. Não é desculpa....estou em Angola....mesmo.
E passa o resto da tarde a enviar-lhe fotos para o telemóvel com locais Angolanos. Esteve para sair uma selfie com José Eduardo dos Santos...mas infelizmente não o consegui localizar.
Sexta-feira.
Uma pessoa. Eu.
E outra pessoa. Ele.
Almoçamos.
Uma pessoa. Eu. Não para de pensar.
- O que raio estou eu a fazer? Não penses e ouve o que ele está a dizer a uma determinada altura vais ter de responder e não dá jeito que ele pense que és burra. Concentra-te, Joana. Concentra-te, Joana. O que raio é que ele está a dizer, ó caneco....não sei o responder...sorri, Joana. Sorri....OMG!
Despediu-se com um semi abraço e dois beijinhos.
Disse-me ao ouvido:
- A partir de agora, sempre que aparecer o meu número no teu telemóvel, não penses em coisas más.
Ainda bem que eu estava encostada ao carro. Ou as pernas tinham-me falhado. Mais do que quando me esbardalhei à grande e à francesa....em Amesterdão...
Sábado.
Mandou-me flores. E trocámos mensagens.
Domingo.
Trocámos mensagens.
Segunda-feira
Trocámos mensagens.
Terça-feira
Praia das tartarugas.
Quarta-feira
Descompensou.
Quinta-feira
Fiz-lhe um ultimato.
Segundo ele, simplifiquei-lhe a vida. Diz ele, que ficou a saber que eu queria o mesmo que ele.
Sexta-feira
Começámos a namorar.
Falámos. E combinámos.
Vamos para Dublin, terça. E se tudo correr bem.
Quinta, quando regressarmos. Regressamos juntos.
Cá estamos. Ah! E sim...correu tudo bem em Dublin!
Da minha parte. Estou 100% certa do passo que dei.
Embora muita gente me diga o contrário.
Não é por mal. Eu sei...
A maioria quer o meu bem. E tem medo que eu me estampe na primeira curva.
Pensem...
Já me disseram isso:
- quando comecei a trabalhar aos 17.
- quando saí de casa aos 17.
- quando estudei e trabalhei.
- quando quis continuar a trabalhar no local onde era feliz e não abracei nenhum negócio de família.
- quando não me quis casar com o meu ex, aos 32/33. Porque era a altura certa.....segundo me diziam.
- quando não quis ter filhos por volta dessa idade. Também era a altura certa...
- quando não quis ir mais além com o rapaz do #rumoaoesquecimento, porque embirrei com os comentários que ele fazia às amigas no instagram.
- etc.
Eu sei que preferiam que eu fosse mais Sofia e José. Rita e Tiago.
Seria mais seguro. Mas não sou. Não somos.
Pedro e Joana. Joana e Pedro.
Sempre quis. Ser eu. A protagonista da minha vida.
Num guião escrito por mim. E não por outra pessoa.
Já falhei. E aprendi.
Já duvidei...mas no fim de contas. Nunca me arrependi.
Não stressem. Amigos.
Vai tudo correr bem.
Palavra de Joana!