mistério resolvido!
Continuamos no Alentejo.
A saborear a vida boa.
Desde que fiquei com a casa e com o terreno à volta decidi aproveitar a terra.
Ainda antes de conhecer o Pedro já eu andava a investigar, a perguntar e a tentar aprender algo que me permitisse rentabilizar (minimamente) a terra.
Quem foram as primeiras vitimas?
As cenouras.
Comprei sementes de cenoura. Passei cá um fim de semana. Espalhei as sementes.
E quando voltei. Quase enfartei.
Nasceu tudo o que havia para nascer e tudo o que não devia ter nascido.
Tinha a Amazónia dentro de portas. Sem a diversidade da Amazónia. Só cenouras mesmo.
Nem tudo foi mau.
Passei um dia a desbastar as cenouras. Para que as que ficassem, crescessem como deve ser.
Trouxe para Cascais. Um carro. Cheio de cenouras. Mini cenouras. E muita rama...muita, muita rama.
Deu-me um trabalho descomunal a tirar a rama. A lavar as cenouras. E a cozinha-las.
Mas....
....o sabor das cenouras compensou tudo.
Pelo cheiro já tinha percebido que eram diferentes das que se compram.
O sabor. Enfim....do outro mundo. Eram pequeninas...mas espetaculares.
A Alice adorou.
Guardei as cenouras no frigorífico e ia-lhe dando ao lanche.
A rama usei em sopa e em omeletes.
Fiquei animada. A minha alma de agricultora veio ao de cima.
E nunca mais ninguém me parou....
...brócolos. Courgettes. Cebolas. Couves. Alfaces. Tomate.
Neste momento a minha horta está bem composta.
Arranjei uma rega automática, que é uma maravilha.
A minha horta só não é biológica porque aqui à volta as pessoas usam pesticidas. E adubos.
Eu não uso nada disso. Pelo menos por agora, até porque não domino esse mundo.
Dá-me um gozo fenomenal fazer salada e ir buscar à horta. Em vez de ir ao supermercado.
No domingo, os pais do Pedro e os meus vieram cá almoçar.
Pedi ao Pedro para ir à horta apanhar algumas coisas que precisava. Eu estava com a Alice num dia em que só queria a mamã, a mamã e a mamã....
Passei-lhe um balde para as mãos e uma cestinha. Já começámos a ter figos maduros e queria fazer alguma coisa com eles.
Adoro figos.
Pedro. Esse grande querido. Foi.
Apanhou o que tinha a apanhar na horta pôs tudo dentro do balde. E foi ter com as figueiras.
Deixou o balde e pegou na cesta.
Apanhou os figos mais maduros da primeira figueira.
E voltou ao balde. Deixou os figos no balde. Pegou na cesta. E foi até outra figueira.
Quando voltou. Achou que o balde tinha menos figos do que aqueles que ele tinha deixado.
E pensou...
- Estou mesmo de férias. Ia jurar que os figos estão a desaparecer.
Deve ter pensado seriamente na vidinha dele.
Quando voltar a trabalhar.
E tiver um doente. Com os rins a céu aberto. E se não der conta do recado? E se os rins desaparecerem como os figos??
Mas....
....foi à vida dele. Deixou os figos no balde. Pegou na cesta. E foi apanhar mais figos.
Voltou ao balde. Olhou lá para dentro. Estranho.
Desta vez tinha a certeza.
Os figos não estavam todos.
Olhou para todos os lados.
Não viu nada, nem ninguém. Não ouviu nada, nem ninguém.
- Muito engraçadinha, Joana. Podes aparecer, já sei que és tu!
Disse o Pedro para o meio do nada.
Não era eu.
Sim. O meu marido. Oito dias depois de ter casado com ele. Achou que eu o andava a roubar.
Sim, senhor! Pedro......
Entretanto em casa.
Joana e Alice. Alice e Joana.
Comecei a achar que o homem estava a demorar muito.
Na minha cabeça todos os filmes.
- O homem tropeçou na rega automática e está esticadinho no meio das abóboras.
- O homem abeirou-se no poço e está esticadinho e a flutuar dentro do poço.
- O homem achou que era um alpinista decidiu trepar a uma figueira e claro...está esticadinho no meio do nada.
- O homem experimentou comer um figo. Engasgou-se. E?? Adivinhem...claro! Está esticadinho, sufocado e enfim....
Fui à procura dele.
A Alice foi comigo.
Fui dar com o homem, ajoelhado, a olhar, ora para o horizonte. Ora para o balde. Ora para o além.
Com mil Slimanis. Será que o homem é muçulmano e chegou aquela hora de fazer as suas orações em direção a Meca?
Não. O homem tentava descobrir o mistério do sumiço dos figos.
- Vasco!
Chamei-o.
Em dois segundos tinha o sacripanta ao pé de mim.
Muito bem disposto. O cão mais feliz do mundo....
Abri-lhe a boca.
E lá dentro. A prova. Os vestígios.
Mistério resolvido! Por Joana Marques....