feita num oito. Ou num oitenta...
Esta pausa. Começou mal.
Tinha planeado seguir para o Alentejo depois do jantar da Alice. Com esperança que dormisse durante a viagem.
Chegava. Pegava nela. E deitava-a na cama. E no dia seguinte.
Sorri, Alice: estás no Alentejo.
Toda eu estava um tumulto. O Pedro. O Pedro. E o Pedro.
E as saudades. E o Pedro. E mais o Pedro.
Só o vou ver daqui a uma eternidade e meia. E tenho saudades. E o Pedro.
Só que...
....eu tenho um cão. Que é protagonista na minha vida.
E sempre que eu ando a pensar demais. Sobre alguma coisa. Ele faz questão de me dizer.
- Eu é que sou o presidente da junta. Olha, para mim....aqui...a fazer birra.
O Vasco firme. Ao lado do vaso das flores. Sem se mexer. Num local quase inacessível.
Eu à espera, a tentar dissuadi-lo.
Ligou-me uma amiga a perguntar se tinha chegado bem ao Alentejo.
- Ainda não cheguei.
Contei-lhe a birra do cão.
- Não vás hoje. Os cães têm um sexto sentido e o Vasco deve estar a pressentir alguma coisa.
- Está! A pressentir que algo se passa na minha cabeça.
Desliguei o telefone. E mostrei-lhe quem é que manda.
Abri o carro.
Arrastei-o.
Peguei-lhe ao colo. Atirei-o lá para dentro.
Coloquei-lhe a trela que o agarra ao banco. E rosnei-lhe ao ouvido..
- Caladinho, ó rafeiro...
Peguei na Alice. Coloquei-a na cadeirinha.
E...
Entrei eu.
Mal iniciámos a viagem. O Vasco ia em pranto.
Chorava. Uivava. Ladrava em sofrimento.
A Alice que até se porta bem em viagem. Começou a chorar.
A gata, dentro da caixa miava. Muito alto.
Tanto uma como outra, devem ter pensado que ia deixa-los, aos três, num canil.
Pior. Num matadouro.
Não entrei na marginal.
Parei o carro onde consegui. Para socorrer as vitimas.
Tirei a Alice do carro. Dei colo. Parou de chorar. Ficou mais tranquila.
O cão continuava em pranto.
Pedi a uma entidade qualquer que me desse força. Me permitisse engolir o sapo. E dar a outra face.
Fui acarinhar o cão.
Pior...a emenda que o soneto.
- Ai que eu sou um desgraçado. Ai que ninguém me liga. Tive o azar de nascer rafeiro e toda a gente me trata mal...
Desisti.
A Alice recomeçou a chorar passado pouco tempo. A gata miava. O cão encomendava a alma ao criador.
Parei na Parede.
Parei em Caxias.
E desisti de parar.
- Chorem. Façam favor....chorem....
Ia na ponte. O meu telemóvel tocou. Estava dentro da mala.
Quando consegui encostar. Vi que tinha sido o Pedro. Liguei-lhe.
Uma grande chinfrineira no carro.
O homem deve ter pensado que estava a ligar-lhe do inferno...
- Liguei só para saber se tinhas chegado bem.
- Vou a caminho.
- Hummmmmm. Onde é que estás. Não te estou a ouvir bem...
- Bem vindo à minha vida...
Despedi-me e segui caminho.
Perto de Vendas Novas. O cão deu-me uma lambidela na cara. Riu-se para mim.
A Alice adormeceu.
A gata continuou a miar. O cão ficou estarrecido com tal audácia. E respondeu-lhe.
E ela a ele.
E ele a ela.
E ela a ele.
E ele a ela.
Cheguei feita num oito. Ou num oitenta...nem sei bem.