liquidificador. E a magia acontece...
Nunca. Na vida dela. Precisou de um liquidificador. A minha avó Maria.
Fazia pratos deliciosos.
Ser alimentada por ela, era um privilégio.
E nunca precisou dele. Do liquidificador. Simplesmente, fazia magia.
Também a minha avó Adélia. Fazia magia. Por mais que tente chegar às fatias douradas que fazia no Natal. Não consigo.
E liquidificador. Claro que não.
É certo que passei menos tempo com ela. Mas não me parece que tivesse um, nas entranhas, da sua casa no Porto.
Quando morreu, herdei o livro de receitas dela. E em nenhuma delas fala neste objeto.
A minha mãe. Que cozinha como ninguém. E tem um saber que ninguém lhe tira.
Só o cheirinho que sai da cozinha quando lá está. É logo diferente. E é sempre melhor....
Não tem nenhum. Já lho apresentei. Olhou para ele. E disse-me que não. Não precisava.
- Mais coisas para encher a cozinha?? Não...
Eu. Joana. Durante muitos anos não tive. Até porque não precisava. Cozinhava pouco. Ou nada.
Depois. Fui frequentando workshops e fui ficando convencida.
E decidi comprar um.
Comprei o mais barato do mercado. Convencida sim, mas não estava rendida.
Até porque o bicho que comprei tinha menos capacidade motora que eu quando estou com um ataque de asma...
Simplesmente, mudava de som. O cheiro. Era esquisito. E desligava.
Recuperava o fôlego.
E lá começava ele. Mudava de som. Cheiro esquisito. E, puff...
-Oh! Céus...
Até que um dia.
Mudou de som. Cheiro esquisito.
Cheiro esquisito intenso.
Muito intenso.
Muito, muito intenso.
Fumo.
Morreu.
(um minuto de silêncio )
Comprei outro. Desta vez. Já estava 100% convencida e rendida.
Apostei num que tivesse capacidade para picar gelo. Foi carote. Mas fiz bem.
Pico tudo.
Carne incluída. E por isso faço almôndegas e hambúrgueres em casa. Por exemplo.
De um momento para o outro o liquidificador passou a ser um bem de primeira necessidade.
Faço tudo lá.
Sopas. Bolos. Smoothies. Bolachas. Farinhas.
Todos os dias o uso.
Embora olhe para ele, quase sempre com um sorriso amarelo.
Limpar o liquidificador é uma seca.
Mesmo na máquina de lavar.
Ontem ao folhear o livro de receitas da minha avó Adélia.
Encontrei o bolo de cenoura que ela fazia.
Tantas recordações na minha cabeça.
Tentei fazer uma versão.
O dela leva farinha de trigo. Que tem glúten. E por isso estava fora de questão...
Juntei:
raspa de uma laranja
sumo de uma laranja
duas colheres de sopa de óleo de coco
400 g de cenoura cozida (aproximadamente)
quatro colheres de sopa de farinha de amêndoa
uma colher de sopa de trigo sarraceno
uma colher de chá de fermento
3 ovos
3 a 4 colheres de açúcar de coco (ou mais, depende da gulodice...)
Tudo no liquidificador. Pois claro!
Untei uma forma de bolo inglês.
Este é um passo importante.
Untem e besuntem a lata...este bolinho é tipo lombriga em intestino doce....agarra-se que é uma festa...
(também podemos optar por forminhas de queques)
Deixei no forno durante 30 a 40 minutos a 180º.
Servi com uma calda de chocolate
(um quadradinho de chocolate derretido numa colher de chá de óleo de coco)
É bom quente ou frio. E faz mesmo lembrar o da minha avó.
Vou-lhe chamar bolo de cenoura da avó Adélia.
Só porque sim.