o devorador de notícias...
Ontem à noite, depois de jantar, o Pedro recebeu um email.
Melhor dizendo. Tinha vários email's novos. Mas abriu só um.
Recebe os resultados das análises dos doentes de forma digital e estava à espera destas em particular.
De um doente operado na quarta-feira.
Percebeu que os valores não estavam como deviam estar. E decidiu ir ao hospital.
Chegou hoje. Pelas 6h da manhã.
Eu já estava acordada. O cão já me tinha acordado. E já se tinha deitado outra vez.
Tomei o pequeno almoço. O Pedro, completamente exausto também comeu qualquer coisa.
E foi descansar.
A Alice acordou.
Tratei dela.
E achei por bem. Tirar toda a gente de casa para o homem poder descansar como deve ser.
O cão. E a Alice.
A Alice. E o cão.
Podemos defini-los de muitas maneiras. Silenciosos. Não é uma delas.
Passeámos. À beira mar.
Brincámos.
Chegou a hora do lanche da manhã. A Alice comeu.
E adormeceu no carrinho.
Ainda pensei em ir para casa dos meus pais. E deitar a Alice na caminha dela.
Ou voltar para minha casa. A Alice a dormir não faz barulho. E o Vasco também não.
Mas...
....o dia estava mesmo agradável.
Tinha um livro comigo. E o meu tricot.
Sentei-me num banco de jardim. Com o carrinho da Alice ao lado. E o Vasco ao lado do carrinho.
Tirei o tricot.
E com uma vista absolutamente maravilhosa. Tricotei...como se não houvesse amanhã.
Um senhor. Mais ou menos da idade dos meus pais.
Perguntou-me:
- Posso-me sentar?
Disse que sim. O banco era grande e eu só ocupava uma parte pequena dele.
Sentou-se na outra ponta.
O Vasco levantou-se num segundo. E no outro esta em cima do banco sentado ao meu lado.
A Alice mexeu-se. Afastei a fralda que estava a tapar o carrinho. Para ver se estava tudo bem.
E o senhor.
Inclinou-se para ver a Alice.
Ouvi o Vasco.
Olhei para trás.
O Vasco estava a rosnar. Ao ouvido do senhor.
- Ele não faz mal. É só garganta...
Disse eu para o senhor. O senhor riu-se. Fez-lhe uma festa.
Abriu o jornal e começou a lê-lo.
Eu a tricotar.
E de repente. Ouço um barulho. Que não encaixava bem na situação....
.......
Olhei.
O Vasco estava feliz da vida a mastigar.
O Vasco estava entretido a comer o jornal.
Juro. 4 anos de Vasco. E nunca tinha percebido que este cão...era ávido por notícias.
O verdadeiro devorador de notícias.
A minha alma. Aparvalhada. Mais do que o costume....
Disse ao senhor que lhe pagava o jornal.
- Não se preocupe. O jornal é de ontem. Tirei-o do café perto da minha casa. Costumo ir lá devolve-lo. Parece-me que hoje não vai acontecer.
O doente do Pedro está estabilizado.
E fora de perigo.