o Vasco sempre a surpreender...
Vasco!
Um cão requintado. Dono disto tudo!
Aqui em casa o sofá é dele. No chão?
- Estarei a ouvir bem?? Estás mas é maluca. Eu não sou cão de me deitar naquilo que vocês chamam tapete quando mais no chão!
Na sala temos um sofá daqueles normais para duas a três pessoas e um sofá individual.
No sofá individual não cabe porque é um cão espaçoso e gosta de estar espalmado qual ovo estrelado. E por isso o poiso dele habitual é o outro sofá, o grande!
Ocupa-o de uma ponta à outra.
Joana? Pedro? O resto da família?
Pois.
Temos o chão. Só para nós.
É normal eu e o Pedro estarmos à noite.
Na sala.
Já depois das miúdas estarem a dormir
A ver qualquer coisa. Filme, série..documentário.
Sentados no chão.
Encostados ao sofá.
Com uma manta por baixo e umas almofadas por trás das costas que a idade já pesa e os bicos de papagaio estão mesmo ao virar da esquina.
Atrás de nós o sofá.
No sofá. O Vasco!
O safado do cão tem uma bola de cristal incorporada no coração. E sabe. Não sei bem como.
A hora certa para sair do sofá e aterrar na nossa cama.
Eu deito-me e ele aceita de bom grado a minha companhia. Mas...
...debate-se um bocado com o Pedro.
Acaba ao colo do Pedro transportado para o sofá da sala.
Sem antes, fazer uma chinfrineira.
Adormecemos. Mas de manhã quando acordamos...
...NUNCA estamos sozinhos. O Vasco mudou-se de malas e bagagens para o nosso quarto.
Quando era só eu. Dormia no tapete. Agora. Faz questão de me acordar com as 4 patas em cima da cama. Espera...impacientemente pela minha saída.
Aninha-se o mais que pode no quentinho.
Quando o Pedro sai da cama.
Ui!
Morreu e foi directamente para o céu sem passar pelo purgatório.
O sono dele pode durar um dia inteiro.
É um castigo para fazer a cama!
Mas...
....desde que eu sou mãe. O Vasco também é .....
E, a Alice e a Mariana estão no topo das prioridades do cão.
Aqui, onde estamos existe um espírito de entre-ajuda grande.
E combinámos, mães com filhas de idades idênticas disponibilizarem a casa aos pequenos seres à vez.
Um dia a Alice brinca com mais duas amiguinhas aqui em casa, no dia seguinte em casa da nossa vizinha holandesa, no dia seguinte na casa da nossa vizinha da Argentina. É maravilhoso!
Só assim tenho tempo para ter tudo em dia.
O mais espantoso é que o Vasco acompanha a Alice. Sempre!
Fica à porta da casa onde a Alice está a brincar. Ao frio, à chuva, ao sol, ao pó....ao vento!
..até a miúda sair de lá. O Vasco está à porta. À espera...serenamente.
Ontem. Eu estava em casa. E ouvi-o ladrar.
Pode parecer mentira mas conheço as minhas filhas pelo cheiro, pela voz, pelos passos...
...tal e qual como conheço o meu cão.
O ladrar do Vasco é inconfundível. Ladrava muito. Muito. Alto. Aflito.
Tão aflito que saí de casa com a Mariana e fui ver o que se estava a passar.
Ao longe vi o Vasco tresloucado a atirar-se à porta de casa da minha vizinha.
E como não conseguiu entrar saltou o muro.
Bati à porta e entrei. (moramos numa espécie de quinta, fechada, é normal as portas estarem no trinco). Percebi que estavam no quintal.
Vi pela janela da cozinha a Alice caída.
O Vasco tinha o focinho no pescoço dela. A conforta-la.
A Alice fez um galo enorme na cabeça e destroçou o nariz. Coisas que acontecem.
É claro que eu fiquei com o coração apertado mas....
....faz parte. Não posso, nem quero que viva numa redoma...
Voltei para casa com a Alice. E com o Vasco.
Tratei da Alice sempre com os olhos do Vasco em cima da Alice.
Ontem à noite. Eu e o Pedro tivemos o sofá só para nós.
Porque o Vasco dormiu no tapete ao lado da cama da Alice.
A Alice está bem. Foi mais o susto.