team. Coelhinho da Páscoa!
Estar apaixonada tem-me tirado o sono.
Dúvidas. Dúvidas. E mais dúvidas.
Querer fazer tudo bem. Não errar.
Quando existe uma amizade prévia entre as pessoas é mais fácil, parece-me.
Neste caso. Não o conheço. Ele não me conhece.
Não sei como vai reagir.
E como me sinto em coma apaixonómico. Não me dava muito jeito que o homem se fizesse à estrada. E me deixasse a falecer de amor....
De quinta para sexta. Não dormi.
O que é que me atormentava. O blog!
Não lhe tinha contado que tinha um blog.
Nem que a determinada altura lhe tinha chamado craque de miudezas urinárias.
Sei lá se tem fair play. E não acha uma afronta....
Toda a gente sabe que a melhor maneira de esconder um cadáver é na segunda página do google. O problema é que se googlar: Joana, Vasco e blog. Aparece, bem aparecido....este blog.
Um grandessíssimo caneco. Um grandessíssimo pepino...
Volta para a direita na cama.
Volta para a esquerda na cama.
Ah! E tinha saudades dele. Muitas. Nunca senti nada assim na vida.
Saudades. Que fazem doer o físico e a alma.
Volta para a direita na cama.
Volta para a esquerda na cama.
E pensar que só o voltaria a ver lá para quinta feira.
Porque chego segunda a Cascais. Mas ele está a trabalhar.
E terça vou para Dublin. E não dá tempo.
E se se esquece de mim?
É óbvio que se vai esquecer de mim. Não me conhece. Viveu toda a vida sem mim. O que é que eu acrescento na vida dele?
Nada. Nada.
Volta para a direita na cama.
Volta para a esquerda na cama.
E o blog? Tenho de lhe contar do blog.
Tinha trocado um mail com uma pessoa que confio muito que me tinha aconselhado a contar o quanto antes.
Tinha de lhe contar.
Levantei-me. Comecei a tratar de tudo.
Ia ter a casa cheia de amigos.
Que vinham à procura de novidades. E de passar um dia no Alentejo.
Comecei a fazer as lasanhas para o almoço.
Tratei da Alice.
Costumo brincar com ela um bocadinho. Mas tive de a colocar na cadeirinha. Porque eu tinha muitas coisas para tratar.
Pus música. E ia falando com ela.
Quando se chateou. Coloquei-a no parque. Com alguns brinquedos. E lá esteve até adormecer.
O Vasco não estava. No Alentejo. Precisa de espaço. Tem muitos afazeres.
Deitei a Alice.
Fui ver o meu mail.
E o meu conselheiro. Lá me dizia. Para não esperar. Para lhe contar o quanto antes.
E eu. Achei mesmo que sim. Tinha de lhe dizer.
Só que...
...eu no Alentejo. Ele a trabalhar. E não lhe queria dizer pelo telefone.
Dei o almoço à Alice.
O Vasco continuava desaparecido.
Mais tarde percebi que dormia à sombra de um chaparro. Ao som dos passarinhos. Um cão da cidade e com uma vida stressante precisa destas folgas...
Chegaram os meus amigos.
A Alice a ser feliz no colo de muitas tias e tios.
Recebeu uma boneca que adorou e quis dormir com ela.
Ela ao meu colo carregada de sono. E a atirar beijinhos a todos.
Esta minha filha....
Quando voltei. Fui atacada. Pelos meus amigos.
E eu. Que não tenho uma noite de sono decente desde que aceitei almoçar com o homem.
Comecei a descarregar tudo e mais alguma coisa.
Um desempenho tão bom digno de um óscar. Com a diferença de não estar a fingir. A personagem era de carne e osso. E era eu.
É claro que por cima do meu choro. Lamurias. Negatividade. E tentativa de suicídio...
Apareceram...gargalhadas. Mas também palmadinhas nas costas. Aquelas coisas de amigos.
- Tu és tão parva.
- Claro que não te vai deixar.
- Como é que podes pensar isso.
E a Ana. Perguntou-me.
- A que horas é que ele sai do trabalho?
- Acho que às 16h.
- Liga-lhe e diz que queres falar com ele. Faz-te à estrada. E vai ter com ele. Contas do blog. Ele vai aceitar na boa. Vês o homem. Vais ficar mais descansada. Eu fico cá até chegares...com a Alice, aquela coisa que chamas cão e a gata.
Não sabia o que fazer.
Liguei-lhe.
Disse-lhe que precisava de falar com ele.
E ele. Disse-me o mesmo. Que também precisava falar comigo.
Que saia às 16h mas tinha trocado uns turnos com um colega e que voltaria a entrar às 00h, ia fazer noite. Provavelmente nem ia a casa. E que sábado ia fazer também dois turnos e que domingo também trabalhava até às 16h.
Desliguei. Sem ter combinado nada.
Voltei para junto dos meus amigos.
A chorar desalmadamente. A dizer.
- Ele vai-me deixar. Diz que precisa de falar comigo. É para comunicar, claro. Que vamos seguir caminhos separados.
E contou-me esta coisa toda dos turnos para eu não o chatear....e para ter desculpa de não atender o telefone.
Os meus amigos olharam para mim com um ar de:
Que rica atrasada mental temos aqui...
E a Ana...
- Vai. Tenho a certeza que não é isso mas se for tens de enfrentar e que seja o mais rápido possível. É pior quando já há família envolvida e cenas dessas...faz-te à estrada. E fica descansada. Fico cá até chegares.
Fui ao frigorífico. Enchi duas caixas individuais de sopa. Peguei numas fatias de bolo de iogurte e coloquei dentro de uma caixa.
Toda a gente achou que tinha sido ali.
Naquele minuto. Que o pouco de lucidez que me restava.
Me tinha abandonado para sempre.
- Ele deve ter fome. Pode comer uma sopa quando sair e guardar a outra para a noite. E ir comendo bolo de iogurte nos intervalos.
Ninguém percebeu. Porque raio é que eu queria alimentar um homem que me ia deixar.
Ele ia-me deixar. Tinha a certeza. Mas eu gostava dele na mesma.
Estacionei o carro perto do hospital. Um pouco antes das 16h.
Enviei-lhe uma mensagem a dizer:
"Estou perto do hospital, quando puderes sair diz qualquer coisa. Não tenhas pressa...eu espero."
Como ele fica lá sempre mais tempo do que o horário de trabalho, tinha ido prevenida com o meu tricot.
Tricotei 10 minutos.
Tricotei 20 minutos.
Tricotei 30 minutos.
Tricotei 40 minutos.
Faltavam 5 minutos para as 17h. Tocou o meu telemóvel. O Pedro.
- Estava a conduzir. Só vi a tua mensagem agora. Onde é que estás?
- Estou naquele estacionamento do lado esquerdo do hospital.
- Do meu hospital?
- Sim.
- Era o que eu temia. Eu estou perto de Monforte. O meu colega chegou mais cedo e como queria falar contigo vim cá ter. Estava a ligar para perguntar onde é que nos podíamos encontrar. Fazemos o seguinte. Volta para cá. E já nos vemos.
Nem queria acreditar.
Nem argumentei. Combinámos em Estremoz.
Lá nos encontrámos finalmente. Nem sei a que horas. Perdi completamente a noção do tempo.
Quando o vi percebi que não queria nada acabar.
Porque me abraçou. E deu-me um beijo...para aí de uns 5 minutos.
Credo!
Sou idosa...
....asmática.
Não estou habituada.
Por isso é que não durmo...desde que o conheci.
- Tenho um blog.
- Tens? Ok.
- Não é nada de especial. Partilho receitas. Esquemas de tricot. Mas quem faz sucesso no blog é o cão. Chama-se Quiosque da Joana.
- Olha, se calhar é melhor começar a lê-lo para perceber o que é que comes...comes, certo?
Lembrei-me de repente que tinha toda uma coleção de caixinhas com comida para ele.
Adiante.
Depois avançou ele.
- É muito usual trocarmos turnos no hospital. Faço-o muitas vezes para ajudar colegas. A primeira vez que o fiz, por mim, foi quando o meu pai foi operado. A segunda foi agora.
Eu sem perceber batatinhas do que me estava a contar.
- Não querendo fazer parecer que estou a diminuir o teu trabalho. Pensei que pudesse ir contigo para Dublin. Terça é a minha folga. Consigo a quarta com o turno de hoje à noite. E a quinta com o turno de domingo. Eu sei que vais estar a trabalhar, enquanto trabalhas aproveito também para ler alguns artigos, protocolos, relatórios. Não vou estar parado. Só acho importante estarmos juntos sem este stress e este ruído todo à volta. Começarmos a trilhar um caminho juntos. Passar tempo de qualidade. Respirar um pouco. O que dizes?
-
Eu disse que sim. Aparvalhadamente disse que sim.
- Então e tu? O que é que me querias contar que não podia esperar?
- Tenho um blog.
- Ah! Era só isso...
- Não é só isso. Em determinada altura sou capaz de ter chamado craque de miudezas urinárias...e também tenho partilhado a nossa história. Estou quase a falecer de ansiedade e toda a gente que passa por lá me tem ajudado...
- Vou ler. Fiquei curioso, agora...
Liguei à Ana a perguntar pela Alice.
- Está ótima! Deixa-te estar.
- Achas que posso jantar com o Pedro?
- Joaninha, estou de férias até dia 3 de Abril. Até lá...conta comigo.
Fomos jantar a um restaurante. Que nos serviu um bacalhau incrivelmente mau.
Acabámos no carro a comer bolo de iogurte.
Atendendo que o Pai Natal me ofereceu este ano uma varicela. Embrulhada numa perna partida.
Mudei de equipa.
De hoje em diante. Faço parte.
Do team.
Coelhinho da Páscoa! E tenho reforços de peso!