ter ou não ter? Eis a questão...
Quando era pequena queria ter um cão.
Os meus pais sempre me disseram que não.
Éramos 5 em casa. Pai, mãe, eu, o meu irmão e a minha irmã.
Com três filhos havia trabalho de sobra lá em casa. E a minha mãe sempre foi contra.
Os meus avós tinham um cão, no Alentejo.
O que eu me divertia com ele.
O cão era já velhote, via mal e um dia foi atropelado. Nunca recuperou. E foi abatido.
Era uma miúda, ainda. Mas perdi um amigo. E demorei a recuperar.
Quando fui viver sozinha, com 17 anos, nunca pensei em ter um cão.
Trabalhava como hospedeira. E estudava.
Com horários loucos e muitas ausências, a minha vida era incompatível com a de um animal doméstico.
A minha casa era alugada. E pequena. Outro contra.
O Vasco apareceu na minha vida em 2014. E apareceu por acaso.
Até ao momento nunca tinha pensado em ter um cão.
Gosto muito de liberdade. E de não ter amarras. E um cão prende-nos um bocadinho...
A verdade, é que neste momento não consigo imaginar a minha vida sem ele.
Nem consigo dizer-vos em palavras o quanto gosto dele. É assim, muito, muito. Do tamanho do mundo...
Como apareceu de surpresa na minha vida. Não tive tempo de ponderar nada. Um dia tinha um cão.
Faria o mesmo se as circunstâncias se repetissem. Mas quem acha que quer um cão deve refletir um bocadinho..
Ter um cão é ter um monte de responsabilidades.
Nem tudo é um mar de rosas. Muitas vezes fazem asneiras.
Nunca me vou esquecer do dia em que o Vasco à porta do meu prédio, em Carcavelos achou por bem pegar no trolley do carteiro. E fez voar as cartas e encomendas todas pela rua fora.
Ao mesmo tempo que desfazia o pobre trolley. E aterrorizava o carteiro.
É claro que eu não podia virar a cara e dizer que não conhecia o bicho de lado nenhum.
Por momentos, ponderei dar corda aos sapatos e mudar de planeta. Mas não o fiz.
Tive de assumir. Claro!
Ter um cão é ter de abdicar de tempo.
O tempo é precioso, todos nós sabemos.
Depois de ter tido um cão, o meu tempo, passou também a ser o tempo dele.
Tempo de o passear. Tempo de tratar dele. Tempo, tempo e tempo...
Ter um cão é ter de ter disponibilidade total. Ou então arranjar alternativas.
Sobretudo nas férias. E em alguns fins de semana.
Já existem hotéis de qualidade.
Para isso precisamos de ter alguma folga financeira.
E ver se o bichinho fica lá de forma minimamente confortável. O Vasco detesta. E sofre horrores.
Ter um cão é ter alguma disponibilidade financeira.
Pode ser que não. Mas pode acontecer precisar de cuidados médicos. São caros.
A própria alimentação também custa dinheiro.
Pelo menos a do meu que é um cão grande e come tudo o que lhe aparece à frente.
Ter um cão é ter de ser forte.
O cão olha para nós com olhos de cão. Todos o fazem.
E pede coisas:
- Dá-me um biscoito. Eu dou.
- Dá-me a perna do frango. Eu dou.
- Dá-me o teu jantar. Eu dou.
- Dá-me um rim. Eu dou.
Uma vez no veterinário, quase perdi a tutela do Vasco.Tinha ele uns 8 meses.
Estava excessivamente pesado. Teve de entrar em dieta. Custou-me mais a mim do que a ele...parece-me.
Tive de aprender a dizer-lhe que não. Ele não fica chateado. Eu fico à beira de um enfarte. Custa tanto, tanto...
Ter um cão é ter de ter espaço extra em casa.
O meu é muito espaçoso. E batiza as assoalhadas todas.
Tem sítios preferidos. E que são só dele. Faz o especial favor de tolerar a minha presença. Mas é só! E já chega!
Nunca me vou esquecer, do dia em que o meu chefe passou por minha casa, para me entregar uns documentos. Convidei-o a entrar.
E ele sentou-se no sofá do Vasco.
O sofá do Vasco está cheio de biscoitos que ele vai escondendo, não vá a fábrica dos biscoitos falir e ele ficar sem nada.
O senhor sentado no sofá e o Vasco sempre a olhar para ele. E o senhor a dizer-me:
- Joana, este cão gosta mesmo de mim.
E eu, com suores frios. A prever uma catástrofe. Daquelas em que um cão espatifa o chefe da dona.
Ter um cão.
É o melhor do mundo. A verdade é essa.
Existe uma lista infindável de argumentos a favor.
E essa lista. Está nesta imagem.
Porque uma imagem vale muito mais do que mil palavras. 💚